O humor e estilo únicos e originais de Kurt Vonnegut o fizeram um dos escritores mais importantes da literatura norte-americana. Sarcástico, ele foi capaz de escrever sobre a brutal destruição da cidade de Dresden, na Alemanha, durante a Segunda Guerra Mundial — sem apelar para descrições sensacionalistas. Em vez disso, criou uma história imaginativa, muitas vezes engraçada e quase psicodélica, estrategicamente situada entre uma introdução e um epílogo autobiográficos. Assim como Billy Pilgrim, o protagonista de Matadouro-Cinco, Vonnegut testemunhou como prisioneiro de guerra, em 1945, a morte de milhares de civis, a maior parte deles por queimaduras e asfixia, no bombardeio que destruiu a cidade alemã. Billy tinha sido capturado e destacado para fazer suplementos vitamínicos em um depósito de carnes subterrneo, onde os prisioneiros se refugiaram do ataque dos Aliados. Salvo pelo trabalho, depois de ter visto toda sorte de mortes e crueldades arbitrárias e absurdas, Billy volta à vida de consumo norte-americana e relata sua pacata biografia, intercalando sua trajetória aparentemente comum com episódios fantásticos de viagens no tempo e no espaço. Ao capturar o espírito de seu tempo e a imaginação de uma geração — afinal, o livro foi publicado originalmente em 1969, em plena guerra do Vietnã e de intensos protestos e movimentos culturais —, o livro logo virou um fenômeno e sua história e estrutura inovadoras se tornaram metáforas para uma nova era que se aproximava. Ao combinar uma escrita cotidiana, ficção científica, piadas e filosofia, o autor também falou das banalidades da cultura do consumismo, da maldade humana e da nossa capacidade de nos acostumarmos com tudo. Qualquer semelhança com a atualidade não é mera coincidência.